sexta-feira, 2 de novembro de 2007



poeminha engraçado. foto de Alessandro Casemiro.

Auto-perfil

Nazaré Breeman

Cafuza meio confusa
A mente, um tanto difusa
epiderme cinza-pálido
olhar quase esquálido,
mamas cor-de-açaí
vulva amarelo-tucupi

Coxas gelatinosas,
pernas estilo siri
Duas bocas bem gulosas,
traseiro: um tipiti*

*tipiti: Mini - Aurélio: S. m. [Do tupi]. Cesto cilíndrico, onde se põe a mandioca que se vai espremer.

Perdi a mão. O chão também.

Tic tac tic tac. O relógio tem menos rotina do que eu. Às vezes ele pára, às vezes atrasa ou adianta. Eu não. Até meu atraso já virou rotina.

Pensar para escrever não dá certo. Tenho de escrever pra pensar. Pra não sair pensando besteira. Só que aí a rotina não me deixa escrever. E o resultado tá aí, pra todo mundo ver.

Vou ter que colocar uma calça, pra ver se paro de espirrar.

Estou falando muito “mano” ultimamente. Resultado de minhas escolhas. Assistir Tropa de Elite, Ônibus 174 e Notícias de uma Guerra Particular em uma semana tem lá suas conseqüências. Você torce por um torturador, tem pena do seqüestrador, chora, dá risada. Mas, principalmente, você sente muito medo. E posso dizer, com a maior sinceridade, que não é medo de que amanhã ou depois eu seja assaltada, que a violência bata à minha porta. Não é. Sinto medo pela minha família, claro, mas não é desse medo que eu estou falando. To falando daquela coisa ruim que eu senti, especialmente quando eu vi o ônibus 174. Um amargo, uma tristeza, um “não tem jeito” que invade a gente. É bem aquela frase do meu perfil do orkut. Que deus me livre da consciência.

Para a minha infelicidade, não é bem assim. Os filmes, os olhares, os pedidos. Os gritos, as músicas, as palavras de ordem. A voz que sobe o tom. Tudo me forma. E de nada posso me livrar. Não posso me desfazer do que ouvi, do que aprendi, do que li. Não sou imune. Gostaria de ser, é certo. Mas tudo, de alguma forma, lateja.

Não faço caso. O sono, o tesão o riso me invadem. O sono, o tesão e o riso já são rotina. Às vezes dá, às vezes não. Sempre voltam.

Você vê o filme, se emociona e fica mal. Depois vai ler um livro, mexer na internet.
Surge uma polêmica, você discute, se comove e pega a condução pra casa, vai se encontrar com a cama macia.
Você lê a notícia, se surpreende e acaba na cama, falando sacanagem.

Coisa boa essa, a sacanagem.