segunda-feira, 24 de dezembro de 2007

Ainda me lembro de suas mãos. Eram grossas, calejadas, quase que ásperas. Era gordinho e baixinho e eu tinha a impressão de que era mais baixo que minha avó. Os cabelos eram ralos e oleosos, e mantinha um bigodinho fino desde que era solteiro. Um dos dedos do pé se sobrepunha ao outro. Usava um tipo de boina, parecida com a do Chaves. Assistíamos Chaves juntos e ele dava muita risada. Deixava a tv no quatro só pra saber quantos graus "faziam" naquele dia. Tinha uma blusa azul e fumava e bebia. Me amava tanto, tanto, que eu nunca poderei recompensá-lo. Me cuidava, me levava na escola, segurava minha mão quando eu tentava andar de patins. Meu avô, meu padrinho, meu pai. Parece que sinto cada vez mais saudades.

domingo, 23 de dezembro de 2007

estou chorona.

se não gosta do capitalismo, por que quer ganhar presente no natal?
não se preocupe, não estou falando com você.

sexta-feira, 2 de novembro de 2007



poeminha engraçado. foto de Alessandro Casemiro.

Auto-perfil

Nazaré Breeman

Cafuza meio confusa
A mente, um tanto difusa
epiderme cinza-pálido
olhar quase esquálido,
mamas cor-de-açaí
vulva amarelo-tucupi

Coxas gelatinosas,
pernas estilo siri
Duas bocas bem gulosas,
traseiro: um tipiti*

*tipiti: Mini - Aurélio: S. m. [Do tupi]. Cesto cilíndrico, onde se põe a mandioca que se vai espremer.

Perdi a mão. O chão também.

Tic tac tic tac. O relógio tem menos rotina do que eu. Às vezes ele pára, às vezes atrasa ou adianta. Eu não. Até meu atraso já virou rotina.

Pensar para escrever não dá certo. Tenho de escrever pra pensar. Pra não sair pensando besteira. Só que aí a rotina não me deixa escrever. E o resultado tá aí, pra todo mundo ver.

Vou ter que colocar uma calça, pra ver se paro de espirrar.

Estou falando muito “mano” ultimamente. Resultado de minhas escolhas. Assistir Tropa de Elite, Ônibus 174 e Notícias de uma Guerra Particular em uma semana tem lá suas conseqüências. Você torce por um torturador, tem pena do seqüestrador, chora, dá risada. Mas, principalmente, você sente muito medo. E posso dizer, com a maior sinceridade, que não é medo de que amanhã ou depois eu seja assaltada, que a violência bata à minha porta. Não é. Sinto medo pela minha família, claro, mas não é desse medo que eu estou falando. To falando daquela coisa ruim que eu senti, especialmente quando eu vi o ônibus 174. Um amargo, uma tristeza, um “não tem jeito” que invade a gente. É bem aquela frase do meu perfil do orkut. Que deus me livre da consciência.

Para a minha infelicidade, não é bem assim. Os filmes, os olhares, os pedidos. Os gritos, as músicas, as palavras de ordem. A voz que sobe o tom. Tudo me forma. E de nada posso me livrar. Não posso me desfazer do que ouvi, do que aprendi, do que li. Não sou imune. Gostaria de ser, é certo. Mas tudo, de alguma forma, lateja.

Não faço caso. O sono, o tesão o riso me invadem. O sono, o tesão e o riso já são rotina. Às vezes dá, às vezes não. Sempre voltam.

Você vê o filme, se emociona e fica mal. Depois vai ler um livro, mexer na internet.
Surge uma polêmica, você discute, se comove e pega a condução pra casa, vai se encontrar com a cama macia.
Você lê a notícia, se surpreende e acaba na cama, falando sacanagem.

Coisa boa essa, a sacanagem.

domingo, 16 de setembro de 2007

quintas-feiras

Aquele sentimento absurdo e invasor, estimulante. Não sei bem o que é, só sei que de repente tudo e todos se tornam “interessantes”.

O homem de cabelos desarrumados, barba, voz grave e inconformada.

Ou o velho, também barbudo, mas já tomado pelos cabelos brancos. Ele usa pantufas em casa e tem muitos, mas muitos livros. Não é tão velho assim, afinal.

A moça de cabelos muito lisos, jeito infantil e inusitado, saias e blusas que contornam o corpo de maneira imprópria.

As palavras. Essas meninas abusadas que se assanham diante de mim. Como num parque dos desejos, elas passeiam se oferecendo, faceiras, libertinas, de ombros estreitos. Podem se tornar o melhor e o pior da noite.

quinta-feira, 23 de agosto de 2007

joelhos

E os olhares se cruzaram, se cruzavam, se cruzaram mais uma vez. Cruzei as pernas incomodada, para descruzá-las e cruzá-las novamente. Me surpreendi ao perceber que ele não mais disfarçava. Não olhava pro canapé de salmão para depois olhar pra mim. Passou, de súbito, a me observar. Antes apenas os olhos, o meu incômodo. Depois as pernas, aflitas, o contorno, o caminho entre elas. Meu incômodo cresceu, tentei esticar o vestido para que pudesse cobrir os joelhos, mas era impossível. Meus joelhos lhe pertenciam. Olhei em volta, procurando alguém, algo que me distraísse, que servisse como desculpa para sair dali. Resolvi me virar, para lhe esconder o meio das pernas, para cobrir meus joelhos com a toalha de algodão branco. Alguns segundos se passaram, mas ainda estava inquieta. Queria olhar pra ele pra ver se ainda me observava, mas se me virasse talvez desse uma impressão errada. Impressão errada? Qual seria a impressão certa? Não agüentei, como nunca agüento. Virei. Ele me olhava. Tornei os olhos pra frente e, involuntariamente, apertei uma perna contra a outra, várias vezes. As duas senhoras que estavam na mesma mesa que eu se levantaram. Estremeci. Ainda voltei meu corpo, o braço esticado, para impedi-las. Não pude. Elas se foram. Fechei os olhos por alguns segundos. Quando abri, ele estava ali, diante de mim, com um meio sorriso nos lábios rosados. Aquela sensação, aquela que eu estava prendendo em algum lugar do meu corpo, que eu escondera da minha consciência, invadiu o espaço, escancarou-se. Estava excitada. Os joelhos dele estavam próximos dos meus. Eu sabia que estavam perigosamente próximos, embora não os visse. Engoli em seco, ainda apertando as pernas uma contra a outra, agora consciente do que fazia. Ele sorriu aquele sorriso raro, maroto, e sua mão procurou a minha. Tirei a mão da superfície da mesa e a trouxe junto ao corpo, como se tivesse me queimado. Ele recuou lentamente, olhando em volta. Com um movimento mínimo, eliminou a distância que separava seu joelho esquerdo do meu joelho direito e, aí sim, estremeci, para em seguida relaxar meu corpo, antes tenso. Não tentei me afastar e, resignada, deixei que ele raspasse seu joelho no meu, sem me preocupar o quão suspeita seria aquela cena para os que observavam. Fechei os olhos e estiquei um pouco a perna, sentindo o tecido fino de sua calça na minha perna nua e lisa. Ele então procurou a minha mão esquerda, que repousava sobre a perna. Não me afastei, por não ter visto seu movimento e por não querer me afastar dele. Abri os olhos ao sentir o toque, ele estava em pé. “Uma dança?”. Minha perdição. Aquela voz rouca, mal humorada. Fosse mudo, eu teria salvação. Mas não. Falava pouco, mas sempre a coisa certa. Levantei-me, embriagada, esquecida dos perigos, sorri dissimulada para um senhor de idade.

Meus joelhos lhe pertenciam.

domingo, 12 de agosto de 2007

sejamos sinceros.
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pra que plural?
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mas pensando bem, até que faz sentido. Se alguém ler isso, já seremos dois e, portanto, mereceremos um s ao final de cada palavra. Se não for lida, tudo bem também, porque não poderei ser corrigida. Odeio ser corrigida.

Sejamos sinceros, para não sermos violentos. O último post foi, como os anteriores, bem down. Não sei se deveria usar uma palavra inglesa mas, que diabos! (elas nunca vêm sozinhas). Enfim, cabe bem aqui. Os posts estão demasiado intimistas e tristes. Se fossem bem escritos ao menos, mas não são.
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gostei dessa história de pontinho. para quem não entendeu, eles significam: "estou pensando no que escrever"
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queria escrever algo alegre, animado, pra cima (up aqui não dá). Mas acho que descobri (mais uma) limitação.

não que esteja triste.
só preocupada mesmo.
e sensível, como os tempos de tpm devem ser.
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já que meu intento não é realizável, resta-me dizer:

Vida Nova, Café Novo. e de todos os tipos e de graça.
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escrever é vaidade. vaidade pura, agora eu sei.


Tenho essa consciência que me cutuca, que vive a gritar “mas você vai ser feliz assim?” ou “você não tem vergonha?”. E aí eu respondo, cabisbaixa: “morro de vergonha”. Morro de vergonha de ter envelhecido, de ter achado que poderia perder a força quando, na verdade, nunca tive essa força, essa convicção que alardeei por aí. Burguesa eu sou. E daquelas fingidas, o que é pior.





quinta-feira, 5 de julho de 2007

té mais.


me vou.


embora

chorar

rir

passar mal

passear sem rumo


embora de onde?

tudo é igual, tudo é mundo.


me vou sentir um gosto novo...

sexta-feira, 29 de junho de 2007

shaking

O prazo dos trabalhos finais está se esgotando, e tudo que eu consigo é ficar ouvindo música... culpa da Maria, claro. Nunca pensei que fosse gostar de algo que saísse dos lábios carnudos e impúdicos* de lobão. Mas gostei, não tem mais jeito.

E estou diante de uma daquelas grandes mudanças da vida. Ah, como eu odeio isso. Mudar de escola, de casa, de trabalho. Mudar, simplesmente. Pra melhor, pra pior, tanto faz. O meu Sistema Nervoso não tá nem aí pro que eu quero.

E, sei lá, devo ter sorte.



*sinônimo graciosamente concedido pela Microsoft. O original era voluptuosos. DIGA SIM AOS DIREITOS AUTORAIS. hi.

quarta-feira, 27 de junho de 2007

lágrimas pra que te quero


eu comecei esse blog pra ver se eu vencia essa maldita vergonha.


Essa, vergonha, no fundo, é medo.


Medo da rejeição. Medo do não.


A verdade é que eu sou muito orgulhosa. E, ao tentar ser uma pseudojornalista, eu me machuquei muito. foda-se. cansei.


Vou vender flores.



quarta-feira, 20 de junho de 2007

rumo ao pó!

Palavras de outro dia:

(coloquei aspas por razões óbvias... não fui eu quem escreveu isso daí)

"Arrogante, mesquinha.
Uma podridão que grita de vez em quando
Que vergonha de me olhar
Que dor bem disfarçada
Que terror das chagas que inutilmente tento esconder
O inferno sou eu

A esperança
Prova da infelicidade
Do incômodo de ser

A borboleta verde-limão
Há muito morreu e desde então apodrece dentro do estômago imenso

Morrerei, em algum dia distante
sozinha"

terça-feira, 19 de junho de 2007

Estão tentando nos enganar...




Não me contive. Tinha que postar de novo.




Dizem que é Marte. Aqui pra eles, ó!




Certeza que é uma panqueca.

Aprendi o significado da palavra "objetivo" no WAR

Às vezes meu xixi tem um cheiro engraçado, de comida fresca, e por um segundo desejo enfiar minha cara na privada e sentir aquele cheiro me invadir.
Depois eu paro e penso que, se aquilo se repetir, vou procurar um médico.
Um psiquiatra.

A kate moss é a mulher mais perfeita, se é que existem escalas de perfeição. Ela foi escolhida pelo Satanás para arrastar milhares de garotas para o Inferno, onde serão obrigadas a comer toneladas de carne de porco gordurosa diante de um grande espelho.

E, quando criança (lá pelos meus 16 anos), eu tinha muita vontade de falar “diabo”.

Seus pés tinham os dedos amassados, calejados. Eles se resumiam em dor e sofrimento. Para ela, no entanto, era sacrifício. A beleza justificaria a dor.

O paraíso justificaria a auto-flagelação.

A vitória justifica a morte, as mortes, o genocídio.

Uma sociedade melhor não justifica trânsito. PORRA!

quarta-feira, 13 de junho de 2007

ws



e, quando eu menos esperava, alguém me amou.
e me cuidou.


Fez minha teoria ir por água abaixo... e eu cansei de teorizar.

segunda-feira, 11 de junho de 2007

segunda feliz

Balanço final:

Não fui pro JUCA (-)
Fiz pouco sexo (-)
de qualidade (+)
Coloquei minha medula à disposição (+)
Fiquei com o braço roxo (-)
Assisti Dançando no Escuro e V de Vingança (+)
Comi pizza, fogaça e chocolate (+)
As calorias se instalaram (-)
Dei risada com velhos amigos (+)
Não vi os amigos da EKS (-)
Conversei muito com mamãe e papai (+++)
Vi minhas duas vozinhas (+)

Sei que o feriado acabou, mas... acabei de ganhar um Kg de chocolate suiço (++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++)

quarta-feira, 6 de junho de 2007

Fútil e sem solução

Clarice Lispector estava à frente do nosso tempo, não tenho dúvida.

E ontem eu conheci a risada dum rapazinho chamado Arbex. O cara parece ser interessante, mas aquela risadinha... muito forçada. E toda vez que ele fazia uma ironia ele dava aquela risada, como se os presentes não fossem percebê-las. Irritante...

Cheguei à conclusão de que o caminho para fora da garrafa é, realmente, não pensar. Eu sei que já disseram isso antes de mim, mas agora acho mesmo que todos esses infartos poderiam ter sido evitados se as pessoas pensassem menos. Sabe, eu não sou nenhuma cientista, mas isso é uma descoberta e tanto. Sem remédios, sem terapia. Poderiam dizer que não pensar é apenas uma fuga, mas, por que isso é ruim? Nós nascemos, crescemos, arrumamos problemas. Aí temos duas opções: ficarmos preocupados tentando achar uma solução OU fugir. Sentar na frente da TV, tomar calmantes, ver Goya no Masp. A segunda opção me parece mais sensata. Até porque, se pensarmos bem, nossos problemas, geralmente, são de dois tipos: os fúteis e os sem solução. Deixe-me mostrar:

Fome no mundo: sem solução.
Problemas com os negócios: fútil (não seja materialista!).
Problemas com as gordurinhas abdominais: ambos, fútil e sem solução.

quarta-feira, 30 de maio de 2007

A melhor profissão do mundo

Ser jornalista é:

a) não ter final de semana e nem direitos trabalhistas

b) ganhar ingressos de shows e ir nas melhores festas

c) ser processado quando se está errado e quando se está certo

d) enganar as pessoas

e) lamber o cu dos anunciantes*


* anunciantes, nessa questão, não são considerados "gente".

choco choco chocolate

o medo da morte, e o choro
e a dor

oscilações de humor
e um abraço apertado

agulhas e saúde malemá
e dormir
pra esquecer das discussões
cada vez mais bestas.

o sono acaba, a cachaça atrapalha

o chocolate é o meio e o fim de todas as coisas.

sexta-feira, 25 de maio de 2007

Vergonha

Estou com vergonha de querer ser jornalista.

Carta para a Rede Record, sobre programa transmitido no dia 22/05/2007:

“A matéria mostrava diversas cenas de dentro da reitoria, como os alunos fazendo cartazes, com a narração do repórter acompanhando cada cena. Dentre várias imagens da ocupação, apareceu uma em que os alunos escorregavam por rampas "alagadas". A narração do repórter foi: "alunos brincam nos corredores". O fato é que aquela imagem não é da reitoria. Aquela rampa, onde os alunos de fato brincavam, está localizada no prédio de História, na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. O episódio aconteceu em um dia de chuva, meses atrás, em que as aulas tiveram de ser canceladas, justamente porque as salas alagaram, atestando a estrutura deficiente do prédio.

É um absurdo que aquela cena estivesse ali, em meio a uma reportagem sobre a ocupação da reitoria. É uma prova da falta de responsabilidade e, pior, da falta de ética dos repórteres e editores envolvidos na feitura da matéria. O que resta saber é se aquela cena foi colocada ali por pura negligência, devido a não checagem de informações, ou se ela estava ali intencionalmente, numa tentativa de prejudicar a imagens dos alunos que protestam dentro da reitoria.”

Carta para a Rede Bandeirantes, sobre programa do dia 23/05/2007:

“Eu estava justamente interessada em saber como iam os protestos marcados para acontecer na Paulista. Então veio a chamada, dizendo que o helicóptero do programa estava sobrevoando a região. Os âncoras e o repórter do helicóptero começaram então uma discussão sobre o protesto, que naquele momento reunia professores, funcionários públicos e estudantes contra a emenda 3 e contra a defasagem do ensino público no Estado, entre outras coisas. O que aconteceu foi uma seqüência de palavras impensadas e desrespeitosas, além de mentirosas. Primeiro o âncora José Nello Marques perguntou quantas pistas o protesto estava ocupando. A resposta foi incorreta, porque era visível que os protestantes estavam no vão do Masp e que o carro de som estava na calçada. Era possível ver os ônibus circulando pela faixa reservada a eles, a da direita, justamente a que o repórter do helicóptero afirmou estar ocupada pelo protesto. O âncora respondeu que aquilo era um absurdo, porque a avenida é um corredor de ambulância. Mesmo que estivesse ocupando uma pista (o que não acontecia naquele momento) ainda sobrariam 3 pistas para a passagem de ambulâncias, o que torna a fala do apresentador uma insensatez, mesmo aos ouvidos mais desatentos. A âncora Silvia Vinhas completa: “É o coração da cidade!”. O que ela quis dizer com isso? Que o povo não deve protestar no “coração” da cidade?

(...)

Depois o repórter ainda completou que estava acontecendo no vão do Masp um atendimento gratuito em prevenção ao glaucoma, que teve der interrompido por causa da manifestação. Foi um problema? Sim, é claro. Mas, em vez de discutir, de questionar porque o atendimento foi interrompido, de perguntar se ele seria transferido para outro lugar ou para outro dia (prestando um serviço aos que assistiam), o âncora José Nello preferiu continuar seu impensado ataque aos protestantes: “Parabéns professores, parabéns, olha aí o que vocês fizeram, parabéns”. Essa mesma frase foi repetida diversas vezes, à exaustão. Ele ainda continuou, incentivando os professores a descerem a Rebouças em direção à USP, para que pudessem se juntar aos alunos que ocupam a Reitoria e fazer “baderna juntos”.

(...)

Ser contra a manifestação de professores, funcionários públicos e estudantes é outra, é colocar-se contra a liberdade de expressão, que é justamente o instrumento mais precioso do jornalismo. O jornalismo tem como função informar e fiscalizar o poder. Em vez de condenar os manifestantes, o povo que se levantou para lutar pelos seus direitos, seria mais ético, mais digno, discutir a razão desse levante.

(...)

Não é preciso nem condenar, nem absolver. É preciso discutir.”
Será que a vida era mais verdadeira quando não havia espelhos? Não.

Sempre estaremos rodeados de olhos.

terça-feira, 22 de maio de 2007

pontos soltos

Por tempos desejei escrever. E de repente descubro que já fui escrita, descrita, que nada há pra se fazer.


Poema em linha reta foi pra mim como um soco que não doeu. Como rancar alguns fios de cabelo. Uma dor que, se existiu, foi superada pela surpresa.


Viemos apenas olhar o campo, comer de frutos e dos homens sentir o fedor. Somos como visitas mal educadas, que não deixaram pra cagar em casa.

segunda-feira, 21 de maio de 2007

Título

E hoje não estou com vontade de escrever nada, só de ler. Já passei por Carlos e conheci Caio. Gosto de chamá-los assim, como se fossem amigos, ou ao menos conhecidos, como se tivéssemos cursado a mesma faculdade e trocado idéias vez ou outra.

É porque eu quero muito ser romântica que eu não consigo me completar.

Hoje não vou escrever. Vou sentar minha bunda numa cadeira vermelha furada e esperar o ônibus passar. Talvez seja melhor assim.

“Zézim, ninguém te ensinará os caminhos. Ninguém me ensinará os caminhos. Ninguém nunca me ensinou caminho nenhum, nem a você, suspeito. Avanço às cegas. Não há caminhos a serem ensinados, nem aprendidos. Na verdade, não há caminhos. E lembrei duns versos dum poeta peruano (será Vallejo? não estou certo): ‘Caminante, no hay camino. Pero el camino se hace ai anda’.”

Caio Fernando Abreu, em carta de Dezembro de 1979.

sexta-feira, 18 de maio de 2007

Timóteo e Altamira

Timóteo e Altamira se conheceram na Igreja de Cambuí, cidade de Minas Gerais. Ela tinha oito anos e ele doze. Timóteo era um rapazinho bem safado. Colava os olhos nas pernas gordinhas de Altamira e acompanhava os passos da menina até que o pai dela batia a porta da casa com força.

Altamira ficou mocinha com 14 anos, enquanto suas amigas todas ficaram com 12. Aquele desenvolvimento “tardio” orgulhou seu pai.
_Minha filha é moça direita! – dizia.
Logo a notícia da menstruação de Altamira se espalhou pela cidade e chegou aos ouvidos aguçados de Timóteo. O garoto, que já era homem, pensou que era tempo do primeiro passo em direção ao casório com a menina de pernas gordinhas.

O baile de Santo Antônio era uma das festas mais importantes da cidade, com dança e cantoria até quase meia-noite. Timóteo vestiu a sua melhor roupa, que era, no caso, uma calça jeans com apenas três remendos. Avistou Altamira logo da entrada. Ela usava um vestido estampado pelos joelhos, cabelos presos em grampos enferrujados. As pernas de Altamira não eram mais gordinhas, eram grossas, fortes, de mulher trabalhadeira. As ancas, perfeitas, de quem não sofrerá para parir os filhos de Timóteo.

Timóteo se aproximou. Os olhos de Altamira cresceram, os joelhos bateram-se. Ela há muito esperava por Timóteo, por seu peito peludo e por seus braços fortes. Quando ela viu os lábios do moço se abrindo, não se conteve.
Altamira saltou para Timóteo, encostando os lábios virgens nos lábios dele, que ela não sabia se eram virgens também. Foi tudo muito rápido e Timóteo não teve tempo de responder, de tomá-la nos braços e nem mesmo de notar os olhos assassinos do pai de Altamira.

O facão atravessou o salão de terra batida. O ofendido foi mais rápido que um tiro, mais rápido que águia. O sangue, que encharcou o chão, sujou o vestido estampado de Altamira. A menina, em soluços, foi arrastada pelo Pai, que a amarrou no pé da única cama que havia na casa deles.

“Em mulher minha ninguém põe a mão”.

quinta-feira, 17 de maio de 2007

Viva Tolkien

Morte ao Campus Malhação! Morte ao Poder!

Por que catzo inventaram o poder?

Alguém aí em cima pode explicar?

A mulher é a perdição? Uma ova. É o poder.
Viva Tolkien.

Hoje sonhei com o Diabo. É sério. E com uma ponte rosa muito alta, que me levava pruma colônia.

O Diabo queria me pegar, mas depois ele ficava legal e tirava uma foto minha. Por que escrevo Diabo com letra maiúscula?

Morte à Consciência! Sejamos fúteis! Eu quero mais é ganhar dinheiro.

Na luta.

sexta-feira, 11 de maio de 2007

Era

Era alta e vestia uma longa canga, que vou deixar a cor pra vocês escolherem. O seu andar era marcado por um ritmo tranqüilo e firme, pelas solas do pé que brincavam de esconder. Era morena clara, daquelas que tomaram muito sol e ficaram com pintas pelo corpo. Lindas. As pernas, as solas, as pintas.

E todo o resto. Mesmo aquilo que não pude ver. Tenho certeza de que era bela, de uma beleza recente, a de “depois dos 25”. Espero que entendam o que quero dizer. Sua beleza era não só imediata, era profunda, subcutânea, mas que de alguma forma aflorava antes que se pudesse conhecê-la melhor.

Porque nunca a conheci. Dela só sei o caminhar, os ombros estreitos. E talvez a beleza seja mesmo algo característico do momento, do relance. Ao contrário das incompletas, as coisas que não se completam são as mais belas.

quarta-feira, 9 de maio de 2007

“Uma estudante de jornalismo que sonhava demais”

Já sonhei em me casar com o Tom Cruise e com o Keanu Reeves, mas com o Keanu seria pra sempre. Já sonhei em ser rica e bonita. Sonhei até com um mundo em que as pessoas não morressem de fome, em que todas as crianças tivessem brinquedo, em que não houvesse nem armas e nem dinheiro.

Eu não parei de sonhar. Mas tento sonhar com coisas possíveis. Pegar um ônibus vazio, não engordar e conseguir chegar em casa a tempo de ver aquele seriado americano.

As pessoas fúteis é que sabem viver.

Uma desculpa pra escrever

Café

Li em algum lugar que a relação que temos com o café é a mesma que temos com o sexo.


Cachaça

Representa, aqui, todas as bebidas alcoólicas. Mas cachaça é a mais romântica.


Comprimido

Tenho dor de cabeça quando tenho fome, quando fico nervosa, quando estou ansiosa, quando vou menstruar. Em média uma cartela a cada 10 dias.